Para
a identificarmos um bom substrato um dos primeiros pontos a ser observado é que
num país com as dimensões do nosso, seria no mínimo ingenuidade considerar qualquer
relação de solos e substratos baseado unicamente nas características
individuais das espécies vegetais. Qualquer formulação baseada neste conceito
se tornará um problema bastando apenas uma relativa diferença de altitude ou
ocorrência de variações microclimáticas entre regiões surpreendentemente
próximas. Maior será a incoerência se considerarmos as diferenças climáticas
existentes entre cada uma das regiões do país.
Todo entusiasta que pretenda
ingressar no cultivo do bonsai, independente do número de exemplares
escolhidos, deve buscar desde o princípio de sua instrução adquirir
conhecimentos que o habilitem a produzir de forma satisfatória o substrato
adequado à sua condição climática e principalmente à sua disponibilidade no
cuidado diário de suas plantas.
Logicamente não é o mais indicado ao
principiante, sob pena de cometer erros fatais pela falta de experiência,
produzir seu primeiro substrato sem nenhuma orientação ou conhecimento prático
prévio. Mas apoiado principalmente na experiência de bonsaístas mais
experientes da mesma região, deverá o quanto antes procurar compreender pelo
menos o comportamento físico dos elementos constituintes dos substratos
disponíveis.
Os solos de origem japonesa são
tidos como os solos ideais para o cultivo do bonsai em todo o mundo, pois são
tradicionalmente utilizados naquele país para este fim. No entanto são apenas
os solos de melhores características disponíveis no Japão e de forma alguma devem ser
considerados os melhores solos para o cultivo do bonsai em qualquer outro lugar
do mundo em que sejam utilizados. Mesmo no Japão alguns cultivadores não os
utilizam, preferindo utilizar exclusivamente areia granulada como substrato.
Com isso pretendemos demonstrar que o substrato adequado pode e deverá ser
extremamente variável, sendo composto de elementos únicos ou diversos que
cumprirão as funções adequadas para a sua região e forma de cultivo, pela combinação
das características físicas e químicas necessárias.
As funções
O substrato precisa cumprir diversas
funções no vaso de bonsai. Fornecer sustentação às raízes, proporcionar a
retenção de água e nutrientes, promover aeração e drenagem adequadas e,
dependendo do objetivo, acelerar ou retardar o crescimento das raízes. Algumas
destas funções que são aparentemente contraditórias como a retenção de água e
aeração, poderão ser cumpridas pela associação de diversas propriedades físicas
num mesmo elemento.
PARA CONTINUAR LENDO O ARTIGO CLIQUE ABAIXO EM MAIS INFORMAÇÕES:
Assim, um elemento que possui boa
capacidade de retenção de água em sua estrutura fornecerá a adequada retenção
de água e nutrientes para a utilização pelas raízes ao longo do dia. Se este
mesmo elemento for utilizado em uma granulometria específica, o espaço formado
entre os grãos eliminará a água rapidamente, sendo preenchidas por ar,
fornecendo oxigênio para estas mesmas raízes.
As
características
Dentre todas as características físicas e químicas necessárias a um bom
substrato, as características físicas são as que teremos maior dificuldade em
alterar rapidamente, sem a necessidade de grandes intervenções. Na verdade isto
só será possível pela troca parcial ou total do substrato. Assim cuidaremos
primeiro das propriedades físicas.
A primeira característica a ser
observada num componente do substrato para bonsai é a dureza ou resistência à
degradação física. O substrato do bonsai é mantido no vaso por um período
relativamente longo, frequentemente por no mínimo um ano.
Pela ação principalmente da rega, as
partículas do solo são gradativamente fragmentadas, reduzindo assim sua
granulometria inicial. A redução da granulometria reduz o espaço formado entre
as partículas aumentando a retenção de água, e como consequência diminuindo o
oxigênio disponível para as raízes. Utilizando um substrato resistente à
degradação, minimizamos ou eliminamos a ocorrência deste problema no decorrer
dos anos e aumentamos o tempo de permanência do substrato sem a necessidade de
transplante.
O elemento de maior resistência mais
utilizado em nossos compostos é a areia granulada. Virtualmente indestrutível
pela ação normal dos elementos atuantes em nossos vasos, pode ser utilizada
pura, fornecendo até mesmo uma retenção ideal de água, de acordo com a granulometria
utilizada. Na outra ponta o solo comum deve ser utilizado com cautela pois
dependendo de sua constituição, fragmentam-se rapidamente, compactando o solo.
Esta compactação, além de reduzir a aeração e consequentemente o oxigênio
disponível, impede a adequada penetração de água no solo, provocando a morte
das raízes e consequente perda de galhos.
Outro elemento perigoso
especialmente ao iniciante e que é indiscriminadamente disseminado pelo Brasil
é a utilização da terra de cupim. A sua resistência é extremamente variável, e
apesar de funcional em alguns casos, depende da composição do solo em que foi
construído, idade do cupinzeiro e do tratamento dado antes da utilização.
Aqui ainda devemos chamar a atenção
para um outro elemento bastante utilizado e que pode ser extremamente danoso no
vaso de bonsai. À primeira vista a argila expandida, natural ou fragmentada,
pode parecer o elemento ideal. A experiência demonstra e foi comprovado
cientificamente que a argila expandida é prejudicial ao desenvolvimento das
raízes.
O composto formado pela fragmentação
de tijolos e telhas cerâmicas, comumente chamadas caqueira ou tijolito, vem
sendo considerado um dos melhores elementos para utilização como substrato de
bonsai. No composto praticamente não sofre degradação, mantendo sua
granulometria estável por muitos anos.
A capacidade de retenção de líquidos
é outra característica buscada nos nossos compostos.
Apesar da possibilidade desta
propriedade ser contornada pela adequação da granulometria das partículas mesmo
em compostos sem nenhuma capacidade de armazenamento de líquidos, como no caso
da areia e pedriscos, em alguns casos é desejado um composto de partículas
maiores favorecendo o desenvolvimento das raízes e acelerando o desenvolvimento do bonsai. Neste
caso um composto formado por pedriscos grossos tenderia a secar rapidamente,
podendo representar um problema adicional. Idealmente a partícula deveria possuir de forma equilibrada a afinidade por
líquidos, absorvendo e saturando-se rapidamente quando o meio estiver com
líquidos disponíveis, e liberando com facilidade para o interstício (espaços
entre as partículas) a medida que o mesmo perde umidade. Os compostos orgânicos
como a compostagem, esterco e turfa possuem a maior capacidade de absorção e
retenção de líquidos, mas falham na habilidade em liberar o mesmo, retendo a
umidade por longos períodos. A terra argilosa possui de forma razoavelmente
equilibrada as duas propriedades de armazenamento e liberação de líquidos mas a
medida que vai se degradando, tende a reter mais líquido pela redução do espaço
intersticial, favorecendo o efeito de capilaridade.
Além disso, as finas partículas
formadas pela degradação agregam-se novamente em partículas maiores e compactas
que dificultam a penetração da água. Mais uma vez a caqueira cerâmica apresenta
a maior facilidade tanto na retenção quanto na liberação de líquidos de acordo
com a variação da umidade do meio.
Outra característica física
importante mas relacionada ao composto como um todo e não apenas aos elementos
individuais utilizados em sua composição é a granulometria das partículas. Em
termos gerais são utilizadas partículas de granulometria entre 1 e 5 mm de
diâmetro. Esta grande variação apresenta objetivos diversos tanto na retenção
de líquidos do composto quanto na taxa de crescimento das raízes. Um composto
de grãos mais finos entre 1 e 2 mm, apresenta menores espaços intersticiais,
favorecendo a retenção de líquidos no interstício pelo maior efeito capilar
entre as partículas e vice versa. Em relação ao crescimento das raízes, um
substrato composto por partículas mais grossas possui consequentemente maior
espaço entre as partículas para um crescimento mais livre das raízes,
resultando num desenvolvimento mais rápido da árvore como um todo. Assim
partículas grossas são utilizadas em árvores jovens ou nas que necessitamos de
um desenvolvimento mais acelerado. De forma oposta um substrato de partículas
finas fornece uma barreira mecânica ao desenvolvimento das raízes, retardando o
seu crescimento.
Estratificação
do Substrato.
Estratificação do substrato consiste
na formação de camadas de diferentes granulométricas de substrato no vaso de
bonsai. Esta estratificação segue um padrão em que o substrato mais grosso
fique no fundo do vaso, o intermediário no meio e o fino próximo à superfície.
Nunca é demais lembrar que partículas menores que 1mm (pó) não são utilizadas.
Este padrão é utilizado por muitos anos nos mais antigos bonsai do mundo, com
ótimos resultados. Recentemente este padrão vem sido questionado. Uma das
alegações que justificariam este questionamento seria de que o substrato grosso
do fundo do vaso secaria rapidamente, provocando a desidratação das raízes
nesta região. Outra alegação
seria de que o efeito capilar formado pela estratificação teria efeito
contrário ao favorecimento da drenagem desejada no vaso do bonsai, mantendo o
substrato mais úmido que o desejado. Utilizando duas propriedades presentes no
substrato estratificado, apontam causas diferentes e contraditórias para
justificar a sua não utilização. Vamos então analisar estas propriedades
levando em consideração algumas peculiaridades do cultivo do bonsai.
O vaso
O vaso do bonsai tem um formato
característico que interfere fortemente no comportamento dos líquidos no
substrato que contém. A altura do vaso em relação às suas demais dimensões
reduz a influenciada da gravidade no favorecimento da drenagem, especialmente
quando optamos por um substrato de granulometria menor, proporcionando uma
maior homogeneidade na distribuição vertical dos líquidos. Em contrapartida, a
maior área de exposição na superfície do vaso, faz com que a região superficial
perca líquidos de forma acelerada, secando primeiro que as camadas inferiores.
Podemos concluir desta forma que ao
utilizarmos um substrato homogênio de granulometria média em um vaso de bonsai,
as camadas superficiais do substrato, após o escoamento do excesso de água após
a rega, secarão mais rapidamente sob o efeito da evaporação. As partes mais
profundas menos expostas ao ar exterior e sem os efeitos da exposição solar
ficarão úmidas por um período maior.
Como nos baseamos no aspecto visual
do substrato na superfície para determinar o importante momento da rega, as
camadas profundas serão mantidas constantemente encharcadas num substrato como
este.
A granulometria utilizada para
favorecer a drenagem e consequente aeração do substrato, não permite a formação
de um efeito capilar eficiente a ponto de contrapor a ação gravitacional e
criar um fluxo de líquidos das camadas mais profundas em direção às camadas
mais superficiais, fluxo esse que poderia manter a homogeneidade da umidade nas
diferentes camadas.
A estratificação objetiva aumentar a
perda de líquidos nas camadas mais profundas, onde sua retenção está
privilegiada, e reduzir a desidratação das camadas superficiais, contrapondo os
efeitos da desidratação. Só ocorrerá desidratação das raízes nas camadas
profundas quando ocorrer a compactação das camadas superficiais que impediriam
a correta penetração dos líquidos no solo durante a rega, ou pela rega
realizada de forma inadequada..
Existem também os aspectos
relacionados ao formato das partículas. Teoricamente, partículas de formato
irregular teriam um melhor efeito na obtenção de ramificação mais fina e
sinuosa, pois forçariam por obstrução física uma mudança mais acentuada na
direção de crescimento das raízes e até mesmo sua ramificação que refletiriam
no desenvolvimento dos galhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário