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terça-feira, 28 de agosto de 2012

O SUBSTRATO DO MEU BONSAI.


                  Para a identificarmos um bom substrato um dos primeiros pontos a ser observado é que num país com as dimensões do nosso, seria no mínimo ingenuidade considerar qualquer relação de solos e substratos baseado unicamente nas características individuais das espécies vegetais. Qualquer formulação baseada neste conceito se tornará um problema bastando apenas uma relativa diferença de altitude ou ocorrência de variações microclimáticas entre regiões surpreendentemente próximas. Maior será a incoerência se considerarmos as diferenças climáticas existentes entre cada uma das regiões do país.
            Todo entusiasta que pretenda ingressar no cultivo do bonsai, independente do número de exemplares escolhidos, deve buscar desde o princípio de sua instrução adquirir conhecimentos que o habilitem a produzir de forma satisfatória o substrato adequado à sua condição climática e principalmente à sua disponibilidade no cuidado diário de suas plantas.
            Logicamente não é o mais indicado ao principiante, sob pena de cometer erros fatais pela falta de experiência, produzir seu primeiro substrato sem nenhuma orientação ou conhecimento prático prévio. Mas apoiado principalmente na experiência de bonsaístas mais experientes da mesma região, deverá o quanto antes procurar compreender pelo menos o comportamento físico dos elementos constituintes dos substratos disponíveis.
            Os solos de origem japonesa são tidos como os solos ideais para o cultivo do bonsai em todo o mundo, pois são tradicionalmente utilizados naquele país para este fim. No entanto são apenas os solos de melhores características disponíveis  no Japão e de forma alguma devem ser considerados os melhores solos para o cultivo do bonsai em qualquer outro lugar do mundo em que sejam utilizados. Mesmo no Japão alguns cultivadores não os utilizam, preferindo utilizar exclusivamente areia granulada como substrato. Com isso pretendemos demonstrar que o substrato adequado pode e deverá ser extremamente variável, sendo composto de elementos únicos ou diversos que cumprirão as funções adequadas para a sua região e forma de cultivo, pela combinação das características físicas e químicas necessárias.

As funções
            O substrato precisa cumprir diversas funções no vaso de bonsai. Fornecer sustentação às raízes, proporcionar a retenção de água e nutrientes, promover aeração e drenagem adequadas e, dependendo do objetivo, acelerar ou retardar o crescimento das raízes. Algumas destas funções que são aparentemente contraditórias como a retenção de água e aeração, poderão ser cumpridas pela associação de diversas propriedades físicas num mesmo elemento.
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            Assim, um elemento que possui boa capacidade de retenção de água em sua estrutura fornecerá a adequada retenção de água e nutrientes para a utilização pelas raízes ao longo do dia. Se este mesmo elemento for utilizado em uma granulometria específica, o espaço formado entre os grãos eliminará a água rapidamente, sendo preenchidas por ar, fornecendo oxigênio para estas mesmas raízes.

As características 
            Dentre todas as características  físicas e químicas necessárias a um bom substrato, as características físicas são as que teremos maior dificuldade em alterar rapidamente, sem a necessidade de grandes intervenções. Na verdade isto só será possível pela troca parcial ou total do substrato. Assim cuidaremos primeiro das propriedades físicas.
            A primeira característica a ser observada num componente do substrato para bonsai é a dureza ou resistência à degradação física. O substrato do bonsai é mantido no vaso por um período relativamente longo, frequentemente por no mínimo um ano.
            Pela ação principalmente da rega, as partículas do solo são gradativamente fragmentadas, reduzindo assim sua granulometria inicial. A redução da granulometria reduz o espaço formado entre as partículas aumentando a retenção de água, e como consequência diminuindo o oxigênio disponível para as raízes. Utilizando um substrato resistente à degradação, minimizamos ou eliminamos a ocorrência deste problema no decorrer dos anos e aumentamos o tempo de permanência do substrato sem a necessidade de transplante.
         O elemento de maior resistência mais utilizado em nossos compostos é a areia granulada. Virtualmente indestrutível pela ação normal dos elementos atuantes em nossos vasos, pode ser utilizada pura, fornecendo até mesmo uma retenção ideal de água, de acordo com a granulometria utilizada. Na outra ponta o solo comum deve ser utilizado com cautela pois dependendo de sua constituição, fragmentam-se rapidamente, compactando o solo. Esta compactação, além de reduzir a aeração e consequentemente o oxigênio disponível, impede a adequada penetração de água no solo, provocando a morte das raízes e consequente perda de galhos.
            Outro elemento perigoso especialmente ao iniciante e que é indiscriminadamente disseminado pelo Brasil é a utilização da terra de cupim. A sua resistência é extremamente variável, e apesar de funcional em alguns casos, depende da composição do solo em que foi construído, idade do cupinzeiro e do tratamento dado antes da utilização.
            Aqui ainda devemos chamar a atenção para um outro elemento bastante utilizado e que pode ser extremamente danoso no vaso de bonsai. À primeira vista a argila expandida, natural ou fragmentada, pode parecer o elemento ideal. A experiência demonstra e foi comprovado cientificamente que a argila expandida é prejudicial ao desenvolvimento das raízes.
            O composto formado pela fragmentação de tijolos e telhas cerâmicas, comumente chamadas caqueira ou tijolito, vem sendo considerado um dos melhores elementos para utilização como substrato de bonsai. No composto praticamente não sofre degradação, mantendo sua granulometria estável por muitos anos.
            A capacidade de retenção de líquidos é outra característica buscada nos nossos compostos.
            Apesar da possibilidade desta propriedade ser contornada pela adequação da granulometria das partículas mesmo em compostos sem nenhuma capacidade de armazenamento de líquidos, como no caso da areia e pedriscos, em alguns casos é desejado um composto de partículas maiores favorecendo o desenvolvimento das raízes e  acelerando o desenvolvimento do bonsai. Neste caso um composto formado por pedriscos grossos tenderia a secar rapidamente, podendo representar um problema adicional. Idealmente a partícula deveria  possuir de forma equilibrada a afinidade por líquidos, absorvendo e saturando-se rapidamente quando o meio estiver com líquidos disponíveis, e liberando com facilidade para o interstício (espaços entre as partículas) a medida que o mesmo perde umidade. Os compostos orgânicos como a compostagem, esterco e turfa possuem a maior capacidade de absorção e retenção de líquidos, mas falham na habilidade em liberar o mesmo, retendo a umidade por longos períodos. A terra argilosa possui de forma razoavelmente equilibrada as duas propriedades de armazenamento e liberação de líquidos mas a medida que vai se degradando, tende a reter mais líquido pela redução do espaço intersticial, favorecendo o efeito de capilaridade.
            Além disso, as finas partículas formadas pela degradação agregam-se novamente em partículas maiores e compactas que dificultam a penetração da água. Mais uma vez a caqueira cerâmica apresenta a maior facilidade tanto na retenção quanto na liberação de líquidos de acordo com a variação da umidade do meio.
            Outra característica física importante mas relacionada ao composto como um todo e não apenas aos elementos individuais utilizados em sua composição é a granulometria das partículas. Em termos gerais são utilizadas partículas de granulometria entre 1 e 5 mm de diâmetro. Esta grande variação apresenta objetivos diversos tanto na retenção de líquidos do composto quanto na taxa de crescimento das raízes. Um composto de grãos mais finos entre 1 e 2 mm, apresenta menores espaços intersticiais, favorecendo a retenção de líquidos no interstício pelo maior efeito capilar entre as partículas e vice versa. Em relação ao crescimento das raízes, um substrato composto por partículas mais grossas possui consequentemente maior espaço entre as partículas para um crescimento mais livre das raízes, resultando num desenvolvimento mais rápido da árvore como um todo. Assim partículas grossas são utilizadas em árvores jovens ou nas que necessitamos de um desenvolvimento mais acelerado. De forma oposta um substrato de partículas finas fornece uma barreira mecânica ao desenvolvimento das raízes, retardando o seu crescimento.

Estratificação do Substrato.
            Estratificação do substrato consiste na formação de camadas de diferentes granulométricas de substrato no vaso de bonsai. Esta estratificação segue um padrão em que o substrato mais grosso fique no fundo do vaso, o intermediário no meio e o fino próximo à superfície. Nunca é demais lembrar que partículas menores que 1mm (pó) não são utilizadas. Este padrão é utilizado por muitos anos nos mais antigos bonsai do mundo, com ótimos resultados. Recentemente este padrão vem sido questionado. Uma das alegações que justificariam este questionamento seria de que o substrato grosso do fundo do vaso secaria rapidamente, provocando a desidratação das raízes nesta região.           Outra alegação seria de que o efeito capilar formado pela estratificação teria efeito contrário ao favorecimento da drenagem desejada no vaso do bonsai, mantendo o substrato mais úmido que o desejado. Utilizando duas propriedades presentes no substrato estratificado, apontam causas diferentes e contraditórias para justificar a sua não utilização. Vamos então analisar estas propriedades levando em consideração algumas peculiaridades do cultivo do bonsai.

O vaso
            O vaso do bonsai tem um formato característico que interfere fortemente no comportamento dos líquidos no substrato que contém. A altura do vaso em relação às suas demais dimensões reduz a influenciada da gravidade no favorecimento da drenagem, especialmente quando optamos por um substrato de granulometria menor, proporcionando uma maior homogeneidade na distribuição vertical dos líquidos. Em contrapartida, a maior área de exposição na superfície do vaso, faz com que a região superficial perca líquidos de forma acelerada, secando primeiro que as camadas inferiores.
            Podemos concluir desta forma que ao utilizarmos um substrato homogênio de granulometria média em um vaso de bonsai, as camadas superficiais do substrato, após o escoamento do excesso de água após a rega, secarão mais rapidamente sob o efeito da evaporação. As partes mais profundas menos expostas ao ar exterior e sem os efeitos da exposição solar ficarão úmidas por um período maior.
            Como nos baseamos no aspecto visual do substrato na superfície para determinar o importante momento da rega, as camadas profundas serão mantidas constantemente encharcadas num substrato como este.
            A granulometria utilizada para favorecer a drenagem e consequente aeração do substrato, não permite a formação de um efeito capilar eficiente a ponto de contrapor a ação gravitacional e criar um fluxo de líquidos das camadas mais profundas em direção às camadas mais superficiais, fluxo esse que poderia manter a homogeneidade da umidade nas diferentes camadas.
            A estratificação objetiva aumentar a perda de líquidos nas camadas mais profundas, onde sua retenção está privilegiada, e reduzir a desidratação das camadas superficiais, contrapondo os efeitos da desidratação. Só ocorrerá desidratação das raízes nas camadas profundas quando ocorrer a compactação das camadas superficiais que impediriam a correta penetração dos líquidos no solo durante a rega, ou pela rega realizada de forma inadequada..
            Existem também os aspectos relacionados ao formato das partículas. Teoricamente, partículas de formato irregular teriam um melhor efeito na obtenção de ramificação mais fina e sinuosa, pois forçariam por obstrução física uma mudança mais acentuada na direção de crescimento das raízes e até mesmo sua ramificação que refletiriam no desenvolvimento dos galhos.

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